Brasil, clima e escolhas urgentes: Caminhos para superar o paradigma atual

Florys Arutzman
Florys Arutzman

A crise climática tem mostrado ao Brasil que não basta apenas reconhecer os sintomas do problema, mas agir com coragem sobre suas causas principais. A agropecuária, a expansão de pastagens e monoculturas, o desmatamento e as queimadas formam um conjunto de forças que agravam as emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa. É cada vez mais evidente que, sem uma transformação profunda no modelo de produção e no uso da terra, esses processos irão ampliar secas, eventos extremos de calor, enchentes e perdas irreversíveis de biodiversidade. A urgência exige reflexão, mobilização de políticas públicas e participação ativa da sociedade civil.

O incremento do rebanho bovino no país e a alocação desproporcional de crédito e incentivos para atividades agrícolas voltadas à exportação colocam em evidência um desequilíbrio. Enquanto regiões com florestas são convertidas em pastagens ou monoculturas, áreas sensíveis perdem sua capacidade de captar carbono, manter regimes hídricos estáveis e abrigar fauna e flora. Além disso, os incêndios florestais resultantes dessas expansões liberam dióxido de carbono e outros gases e agravam a degradação. São processos interligados e retroalimentados que dificultam a reversão se não forem enfrentados com políticas integradas.

Os mecanismos de monitoramento e cálculo das emissões revelam falhas e lacunas, sobretudo no que se refere à degradação florestal e ao carbono emitido em queimadas. Isso significa que o impacto real muitas vezes é subdimensionado em inventários oficiais, o que compromete a formulação de metas ambientais mais ambiciosas e mensuráveis. A transparência desses dados, bem como o fortalecimento de órgãos de fiscalização, são passos essenciais para dar sustentação a qualquer estratégia de mitigação e adaptação climática. Sem isso, medidas ficam desencontradas ou insuficientes.

Alternativas ao modelo vigente já se demonstram possíveis e inspiradoras. Práticas agroecológicas, agricultura familiar, reforma agrária, fortalecimento de comunidades tradicionais e quilombolas aparecem como caminhos que conciliam produção de alimentos, preservação ambiental e justiça social. Essas experiências permitem não apenas manter a capacidade produtiva do país, mas também reduzir emissões, estabilizar solos, conservar água e gerar autonomia para pequenos produtores. O reconhecimento desses modelos como centrais, e não apenas periféricos, é fundamental.

A legislação, as políticas fiscais e os incentivos governamentais têm papel determinante para promover a mudança de rota. Redirecionar subsídios, condicioná-los ao cumprimento de normas ambientais, aumentar o apoio à pesquisa e à inovação sustentável, bem como incentivar mercados mais próximos, menos dependentes de longas cadeias logísticas e de grandes insumos externos, são medidas com impacto real se implementadas com compromisso de longo prazo. O Estado precisa assumir responsabilidade não apenas como agente regulador, mas como catalisador de transformações positivas.

Outro ponto crucial é a consciência e engajamento coletivo. Movimentos sociais, organizações não governamentais, comunidades locais, consumidores e cidadãos em geral devem participar ativamente do debate. Cobrar transparência, exigir metas ambientais consistentes, apoiar iniciativas locais que preservem ecossistemas, promover dietas mais diversificadas e menos impactantes — tudo isso faz parte das escolhas que podem alterar o curso atual. Sociedades que agem coletivamente têm mais chance de influenciar direções políticas e transformar a ordem econômica.

As consequências da inércia já se tornam visíveis — mais incêndios, mais calor, eventos climáticos extremos, prejuízos agrícolas, danos à saúde pública. Cada fracasso em intervir cedo eleva os custos futuros, seja para reparar danos, seja para adaptar infraestrutura, cultivar em condições adversas ou manter a vida nas áreas mais vulneráveis. Investir cedo em mitigação e adaptação é investir no barato hoje para evitar o muito caro amanhã.

Portanto, o Brasil encontra-se em uma encruzilhada. É possível escolher entre continuar alimentando um modelo que pressiona ecossistemas, reforça desigualdades e acelera a crise climática ou apostar numa trajetória de reconstrução integrada, sustentável e justa. O futuro depende das decisões tomadas agora, das políticas implementadas, das práticas adotadas no campo e fora dele, e da mobilização de cada segmento da sociedade. O momento exige clareza, responsabilidade e ação decisiva.

Autor: Florys Arutzman

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