Tecnologia 5G será liberada sexta-feira na Capital

Florys Arutzman
Florys Arutzman

Depois de sucessivos adiamentos do leilão das faixas de internet 5G por conta da pandemia e de vários impasses locais, finalmente a frequência do 5G puro (standalone) será liberada em Belo Horizonte a partir de sexta-feira (29). Junto com João Pessoa (PB) e Porto Alegre (RS), a capital mineira se junta a Brasília (DF), a primeira cidade a contar com essa possibilidade. A expectativa é que todas as capitais brasileiras contem com o serviço até o dia 29 de setembro nas faixas de 3300MHz a 3700MHz. Municípios com mais de 500 mil habitantes mas que não são capitais devem começar a receber a tecnologia a partir de janeiro do próximo ano.

A abertura do sinal promete uma revolução nas comunicações via internet. A tecnologia 5G oferece três principais diferenciais com potencial para alterar o modo como produzimos e consumimos atualmente: a baixa latência (tempo de resposta do sinal), o múltiplo acesso (suporta número elevado de conexões simultâneas) e alta vazão (comporta grande volume de tráfego em alta velocidade).

Será a hora e a vez da chamada internet das coisas (IoT), que permite que os dispositivos ligados à rede “conversem entre si”. Tecnologias como os carros autônomos e a telemedicina devem avançar com o 5G, bem como a chamada indústria 4.0, com toda a linha de produção automatizada.

As cidades até aqui contempladas cumpriram os pré-requisitos técnicos para a liberação. A logística, aliás, é um dos dificultadores para o full 5G. A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) considera que só depois de 2030 será possível implantar a quinta geração da internet em todo o País.

Em Belo Horizonte, por exemplo, foi só no dia 21 de junho que o Projeto de Lei 328/2022, que trata da regulamentação e implementação de antenas que viabilizem a tecnologia 5G, foi aprovado pela Câmara Municipal da Capital.

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Software e Tecnologia da Inovação (Sindinfor) e conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Fábio Veras, a tecnologia 5G, em médio prazo, deve modificar o ambiente de negócios para boa parte das empresas, especialmente as de base tecnológica.

“O sindicato enviou minutas de projetos para a legislação sobre antenas para vários municípios de Minas Gerais. Esse é um pré-requisito importante para o ambiente regulatório. As antenas para o 5G são as estradas dos dados. Fizemos um esforço muito grande nesse sentido. A tecnologia permite a possibilidade de novos negócios, ganhos em agilidade, eficiência e produtividade. Em médio prazo o ambiente do 5G vai permitir a geração de múltiplos ganhos em termos de oportunidades para empreendedores, empresas de TI e startups”, explica Veras.

Veras estima mudanças no ambiente de negócios em médio prazo | Crédito: Mariana Borges / Divulgação
No mesmo sentido caminha a análise do presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação em Minas Gerais (Assespro – MG), Fernando Santos. Ele lembra, porém, que a tecnologia é apenas uma ferramenta de desenvolvimento e não faz nada sozinha.

“Podemos colocar a chegada do 5G como um marco, ele é, realmente, disruptivo. Estamos falando de novas aplicações, novos negócios e empregos. Esperamos que essa implantação seja de forma consistente. A infraestrutura é o nosso receito no Brasil. Sabemos que um dos motivos para o atraso foi em relação à dificuldade de importação dos equipamentos. O 5G é fundamental para todo um trabalho conjunto para tornar BH uma cidade inovadora. O primeiro ponto é ter uma infraestrutura para isso. Já temos capital humano, que temos, inclusive, perdido para outros países. Devemos lembrar que a tecnologia é um meio. Para que ela concretize o seu potencial, precisamos de políticas públicas, incentivo para pesquisa e desenvolvimento, organização da cadeia produtiva e ambiente colaborativo”, pondera Santos.

Para o gerente da CAS Tecnologia, Octavio Brasil, o 5G abre possibilidades de incremento e ganho de eficiência em áreas estratégicas para o desenvolvimento do País, como água e energia elétrica. Nesse momento as concessionárias de energia estão mais avançadas nas soluções de tecnologia da informação (TI) e aplicação de inteligência artificial (AI).

A CAS Tecnologia desenvolve soluções de inteligência artificial, internet das coisas, big data para esses setores, entre outros. Conta com soluções inteligentes de gestão de dados de medição e telemedição, automatização de processos, gestão e suporte à tomada de decisão.

“Em 2022 foram duas grandes novidades: 5G para as áreas densamente povoadas e a tecnologia por satélite para as áreas remotas. No setor de energia, que já começou há 20 anos a implementar soluções de redes inteligentes, as concessionárias estão adiantadas e existe pouca diferença entre elas. A quantidade de dados que as concessionárias coletam e gerenciam aumenta rapidamente. Cada vez mais se usam os medidores inteligentes e monitoram as redes. As novas tecnologias facilitam a coleta e o tratamento desses dados e a inteligência artificial já suporta a tomada de decisões. Já existe o uso preditivo da AI nesses setores. Junto com dados meteorológicos já é possível prever áreas onde a rede corre riscos no caso de um evento climático extremo, por exemplo, e realocar recursos para os pontos críticos antecipadamente. Já o segmento de água está começando, com o Marco Regulatório ficou mais fácil”, analisa Octavio Brasil.

Desocupação
Sediado em Santa Rita do Sapucaí (Sul de Minas), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) participa do grupo técnico para a desocupação de migração de faixa para a entrada do 5G. Em parceria com a consultoria KPMG, o Instituto presta consultoria técnica para a Entidade Administradora das Faixas (EAF) nas definições referentes à desocupação da faixa de frequência da banda C, utilizada atualmente pelas emissoras de TV aberta via satélite, e também a migração do sinal da banda C para a banda Ku. A desocupação e a migração são compromissos assumidos pelas operadoras que compraram o bloco nacional de frequência de 3,5 GHz no leilão para a quinta geração de comunicação móvel, realizado no fim de 2021.

Segundo o pesquisador e consultor em Engenharia de Telecomunicações do Inatel, Hugo Rodrigues Dias Filgueiras, o que estamos começando a ver agora é fruto de muito esforço ao longo do tempo para que a tecnologia ficasse pronta e pudesse ser integrada ao dia a dia das empresas e da população.

“A tecnologia está pronta há algum tempo. Tem uma operação de proteção da TV de satélite. A operação de desocupação e migração da faixa está sendo feita para proteger a transmissão da TV via satélite. Haverá a necessidade da troca das antenas parabólicas da casa das pessoas por um novo modelo. E as parabólicas profissionais que ficam dentro das emissoras, ganham novos filtros. Então as liberações começaram pelas cidades que já foram protegidas. Para o usuário final vai mudar para quem já tem aparelhos compatíveis. Já as operadoras precisarão de um novo modelo de negócios. O consumo de dados será muito diferente do que estamos acostumados. O 5G foi impulsionado pelo IoT porque intensificamos a quantidade massiva de usuários não humanos para uma rede que não suportava”, afirma Filgueiras.

Filgueiras explica que será necessária a troca de parabólicas por novos modelos de antenas | Crédito: Divulgação
Passado e futuro juntos
É certo que a chegada do 5G deve ser comemorada. Essa liberação, porém, joga luz sobre duas pontas distintas de um Brasil muito desigual. Enquanto no Inatel as pesquisas sobre a sexta geração (6G) avançam, em Minas Gerais 10% dos moradores não contam com cobertura 4G. Isso coloca o Estado em 12º lugar no ranking de cobertura da Anatel. Segundo a Agência, o Distrito Federal (99,66%), São Paulo (98,78%) e Rio de Janeiro (98,40%) lideram com a maior faixa coberta.

A expectativa é que a cobertura e qualidade do sinal 4G nas cidades melhore visto que o leilão do 5G impôs aos ganhadores investimentos também na atual frequência e por diluir o número atual de usuários do 4G.

Em fevereiro de 2020 foram dados os primeiros passos da pesquisa sobre o cenário pós-5G. Desenvolver o 6G pode colocar o Brasil, pela primeira vez, em condições de não ser um mero consumidor da tecnologia de comunicação móvel mas, sim, de ter protagonismo em um salto tecnológico sem precedentes e fazer do País um provedor e exportador de tecnologia de ponta.

Pode parecer estranho falar em 6G quando em muitos casos mal conseguimos usar o 4G e o 5G está apenas começando nas grandes cidades, mas é preciso entender como funcionam os ciclos de pesquisa e desenvolvimento. Historicamente as gerações de comunicação móvel surgem de dez em dez anos. Se a implantação do 5G em níveis mundiais começou em 2020, o 6G está previsto para 2030.

É necessário muito tempo para que toda a tecnologia e as funcionalidades sejam desenvolvidas, testadas, ajustadas às necessidades e realidades de cada lugar. Ainda há todo o processo de regulamentação e implantação. Até o 4G o Brasil foi um mero consumidor. A partir do 5G, também com o Inatel, passamos a participar das pesquisas, mas bastante atrasados.

“Já estamos na segunda fase da pesquisa em parceria com universidades brasileiras e estrangeiras e esperamos renovar o financiamento para a continuidade no ano que vem. Agora é nossa chance de sermos protagonistas nesse processo e tentar influenciar o ecossistema mundial para o desenvolvimento de características que atendam às necessidades e características do Brasil”, defende o professor do Inatel.

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