Escola Municipal Borba Gato, na Zona Sul, incluiu cuidado da natureza no currículo tradicional. Unidade do Sesc em Guarulhos tem captação da chuva e teto de vidro com sistema de ventilação natural.
Em vez de cadeira escolar, um tronco de árvore. O lápis sai de cena para lupa entrar, dando lugar para olhares curiosos que vão descobrindo o que a natureza oferece.
Essa descrição faz parte de um dia comum de aula na Escola Municipal Borba Gato, localizada no bairro Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo. Nela, as crianças aprendem sobre sustentabilidade em uma agrofloresta que fica no interior da unidade.
Mas além da agrofloresta, a escola também tem uma educação baseada na natureza a partir da infraestrutura: pátios espalhados, maior área permeável e vegetação por todo canto. Até no centro da mesa onde as crianças fazem a refeição tem plantas.
As matérias do currículo tradicional também abordam temas que ensinam as crianças a cuidar da natureza.
“Quando elas estão nesse ambiente, elas se sentem parte de um todo e isso ajuda muito na socialização, a entender sobre a diversidade na sociedade também a partir da natureza”, diz João Paulo, gerente de natureza do Instituto Alana.
O instituto do qual João Paulo faz parte é parceiro da prefeitura no projeto que quer transformar as escolas paulistanas em centros de irradiação de uma política de adaptação climática.
“Acaba sendo as escolas que acolhem as famílias que são prejudicadas por esses eventos extremos. Então, a escola precisa estar preparada com essa infraestrutura, mas também com protocolo de como receber as famílias, como acolher”, enfatiza João Paulo.
Praças e parques
A escola também deve estar conectada com praças e parques. E esses também precisam ser planejados. Se prédios e avenidas avançam nas cidades trazendo mais concreto e poluição, é preciso multiplicar as áreas verdes.
O parque Villa-Lobos, na Zona Oeste de São Paulo, foi criado há 20 anos, num terreno que recebia lixo e entulho. Quase não tinha árvore quando foi inaugurado. Levou tempo. Mas hoje não falta sombra.
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A professora Maria Augusta Pisani, que faz parte do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que os espaços de uso coletivo são fundamentais pra nossa qualidade de vida.
“A vegetação melhora a umidade relativa do ar, que faz respirarmos melhor, a questão do sombreamento. Os parques é a forma mais democrática de você dar esse espaço com qualidade para o público usar, né?”, diz.
E nada como observar os princípios da natureza pra tentar reproduzi-los na arquitetura dos espaços de uso coletivo. Esse é o norte para construção de qualquer Sesc. A unidade de Guarulhos é considerada uma das mais modernas.
O teto de vidro com sistema de ventilação natural que deixa o ar circular é um dos diferenciais dessa unidade. Mas, além disso, no telhado há um sistema de captação. A chuva escorre pelo vidro, corre pelas canaletas e é armazenada em tanques com capacidade de até 550 mil litros.
“Se a gente pegar, assim, em 2000, que é onde a gente tem essa série histórica de um indicador que é volume de água por usuário, por pessoa que entrou na unidade, a gente partiu de lá de 80 litros por pessoa para hoje os 25, 26 litros. Tudo que a gente puder fazer numa edificação sendo ela a ser construída ou das mais antigas, a gente vai procurar para deixar mais eficientes”, explica Josué Cardoso, coordenador de infraestrutura no Sesc.
A água de reuso no Sesc é usada nos banheiros e também para irrigar as áreas verdes. Alice Duarte Santos conta que toda quarta-feira é dia de trazer a filha para aula de piano e aproveitar esses locais que conectam com a natureza.
“Quando eu estava tirando foto da planta, saiu uma borboletinha e isso já me emociona. São pequenas coisas pequenos prazeres que eu acho que o ser humano teria que dar mais valor, né?”, enfatiza.